sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vanitas vanitatum et omnia vanitas

Em minha viagem para Ouro Preto, Mariana e Congonhas mergulhei no estilo barroco e vi de mais perto seus principais elementos, entre eles a caveira e a concha. Fiquei encantada pela presença simbólica da morte em cada espaço que visitava e resolvi escrever um post sobre um dos elementos que está em alta na moda atual: a caveira.

Cemitério da Igreja de São Francisco de Assis- Ouro Preto- MG


Impressionante como de repente a moda se encheu de caveiras por toda parte. Claro que elas são charmosas, estilosas, com brilhos, aplicações e design sempre atual, mas não é de hoje que a caveira aparece tão forte no imaginário e na cultura de uma sociedade.
http://piedradecarretera.blogspot.com.br/2010/08/vanidad-de-vanidades.html

Mas qual a razão de tantas caveiras em joias, estampas de roupas, lenços, pinturas, esculturas, design e decoração? Talvez tudo esteja conectado ao conceito de Vanitas, (leia vânitas). Enquanto na antiguidade  até a idade moderna a vaidade era atacada e vista como algo de relativa brevidade e efêmera glória, vivemos na sociedade pós-moderna mais uma inversão de um valor, e a vaidade é alvo direto da indústria, que a estimulada e faz dela o centro de nossas preocupações.

Hendrik Andrieszen, Vanitas.

http://blog.novelasteen.com/?p=154

O versículo do livro de Eclesiastes diz o seguinte: Vanitas vanitatum et omnia vanitas, traduzindo significa, Vaidade das vaidades e tudo é vaidade. O que antes foi alerta para o luxo e o apego ao supérfluo, hoje se tornou hit e a caveira deixa os quadros sisudos dos pintores holandeses e invade o mundo na cibercultura.

Adriaen van Utrecht-Vanitas- (1642) 

http://ipnagogicosentire.wordpress.com/category/lemmario-darte-v/
É comum encontrar símbolos de várias atividades humanas e junto deles a caveira. Vemos armas de cavaleiros, vasos com flores murchando, espelho, livros, instrumentos astronômicos, instrumentos musicais e a  representação da concha, o que remete ao apogeu do estilo barroco na história da arte europeia.

Edwaert Collier - 1693




Na atualidade, o artista plástico britânico Damien Hirst renova os temas pintados pelos artistas holandeses, reavivando em suas obras questões sobre a religião, a mortalidade e a natureza da existência humana, não mais como um aviso sobre as futilidades da vida, mas sim como um deboche da morte. Como isso é possível? Tornando um crânio humano uma joia fascinante e cara.

Damien Hirst e sua obra Pelo amor de Deus


Em sua escultura vemos o brilho de 8.601 diamantes e entre eles um gigantesco diamante rosa de 50 quilates. A sua explicação para a obra é que a mesma trata de um desafio a morte. Outro artista que representa o conceito de Vanitas em sua obra é Fernando Vicente. Suas pinturas são fascinantes e apresentam o corpo humano e suas vaidades de uma forma crítica e ao mesmo tempo natural.

Fernando Vicente, Máscara.

 Eu particularmente gosto muito do tema e tenho um belíssimo lenço estampado com caveirinhas sorridentes e uma pulseira com a famosa caveira do portão do cemitério. Acho interessante essa dinâmica que transforma e confere novos significados para as coisas ao nosso redor, mas também importante lembrar dos primeiros sentidos e assim questionar a si mesmo se de fato vivemos apenas a vaidade das vaidades ou se encontramos algum sentido verdadeiro para nossas necessidades de consumo.

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